Características
A salicórnia é uma planta sazonal, que começa a germinar em março, abril. “Em agosto floresce e cria uns nódulos que secam e daí cai a semente”, que depois germina no ano seguinte, explica Júlio Coelho, revelando que no primeiro ano de produção “colhemos uma tonelada de salicórnia à tesoura, à mão, o que não era ideal para o negócio, porque era preciso ter muita mão de obra”. Já no ano passado, 2020, a Horta da Ria adquiriu uma máquina de corte de salicórnia, máquinas que já eram usadas com sucesso por produtores holandeses de salicórnia. Esta alteração provocou um aumento de 1000% na sua produção. “Passámos de uma tonelada por ano, para dez toneladas, que foi o que apanhámos o ano passado”, revela o empresário.
A Horta da Ria produz salicórnia fresca, mas também produz salicórnia em pó e em pickles. É mais usada para saladas, como explica Júlio Coelho, “mas tem um handicap, que nós tentámos resolver, o facto de só durar 20 a 30 dias no frio”. Deste problema, nasceu a ideia de produzir salicórnia em pickles, em conserva de vinagre, que “aumenta a sua duração para um ano”, e, se for desidratada e moída em pó, o produto em vez de durar 20 dias, dura três anos, ou mais”.
A transformação de salicórnia em pó veio contribuir para a criação de “um novo sal, mais saudável, o sal verde”, diz o empresário, lembrando a longevidade que esta planta tem na culinária portuguesa. “A salicórnia, em termos históricos, é usada há mais de 500 anos na alimentação”, diz, apesar de não ser uma planta bem vista por quem trabalhava nas marinhas de sal. “Os nossos marnotos não gostavam muito dela”, avança Júlia Cavaz, revelando que “até lhe chamavam a planta do diabo, porque ela nascia no meio das marinhas”. Para os marnotos antigos, a salicórnia “era quase como se fosse uma erva daninha”, conclui.
Uma das vantagens no consumo da salicórnia está na redução da ingestão de sal, já que “100 gramas de salicórnia em pó, tem 23 gramas de sal”, explica Júlio Coelho, revelando que em termos de utilização, a quantidade é idêntica, às vezes até menor. “Estamos a reduzir em 75% a quantidade de sal que consumimos”, conclui. Júlia Cavaz explica ainda que pretendem divulgar os produtos no universo de pessoas que sofrem de hipertensão, por exemplo, “porque somos contactados por pessoas que sofrem de doenças em que o consumo de sal é prejudicial e querem saber se a salicórnia é uma alternativa.”
A salicórnia pode ser utilizada como substituto do sal de cozinha nas preparações culinárias, uma vez que apresenta menores quantidades de sódio (aproximadamente 1 176 mg/100 g vs. 38 758 mg/100 g).
Parcerias
Outras das parcerias de sucesso da Horta da Ria foi com a Moagem Carlos Valente, em Vale de Ílhavo, onde se produz uma farinha de trigo com salicórnia, para fazer pão. “É feita em mó de pedra e depois é adicionada a salicórnia, para fazer pão, explica Júlio Coelho, lembrando que “o pão fica com menos 75% de sal, e como esta farinha já tem salicórnia, as pessoas que fazem o pão não precisam de adicionar sal”. O empresário referiu ainda as “novas invenções que há por aí, em que se fazem bases de pizza, panquecas, etc”.
A mais recente parceria da Horta da Ria foi com a Lovecraft Portugal e com a Burguesa Porto Craft Beer, para produzir a Oyster Stout, uma cerveja feita à base de ostras e de salicórnia.
O casal de empreendedores referiu ainda a colaboração do chef Ricardo Marques, do restaurante do Montebelo Hotel, na Vista Alegre, com a criação de receitas com salicórnia, destacando os “peixinhos da horta, que é a tempura de salicórnia” e um brownie de chocolate com salicórnia fresca, tornando-se um dos principais promotores da Horta.