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Horta da Ria eleva a salicórnia a um novo patamar - Diário de Aveiro - 6 de novembro 2018

postado por      Nov 6, 2018     Notícias    0 Comentários
Horta da Ria eleva a salicórnia a um novo patamar - Diário de Aveiro - 6 de novembro 2018

“Agricultores” de salicórnia conquistam o mercado com produtos inovadores

Horta da Ria É a única empresa de produção de salicórnia a nível nacional com uma produção 100 por cento biológica. Explora mais de oito hectares de Ria e, além da versão fresca, juntou-lhe a conversa, a desidratada, um sabonete e farinha.

Sandra Simões

A Salicórnia Ramosissima é uma espécie halófita, vulgarmente conhecida como salicórnia da Ria, e está na base do projecto “Horta da Ria”, uma “startup” encabeçada por Júlio Coelho e Eduardo Rodrigues que está determinada em valorizar uma planta espontânea, que cresce em ambientes salinos, e que é vista por muitos como uma verdadeira praga. Nesta “horta”, porém, a salicórnia é muito respeitada e transformada numa variedade de produtos que estão a conquistar o mercado nacional e internacional.

Oito hectares de horta

Nos últimos anos a ganhar terreno nas cozinhas mais “chiques” como erva “gourmet”, que serve para adicionar sal às melhores iguarias, esta dupla de empreendedores reconhece nesta planta muitos mais predicados e ainda que a sua venda fresca tivesse sido o enfoque inicial do projeto, neste momento já dispões de um conjunto de cinco produtos feitos à base de salicórnia, a maioria na área da gastronomia, mas um deles pioneiro na área da cosmética. Trata-se de um sabonete que “promete” propriedades antioxidantes, antibacterianas e anti-inflamatórias.

Considerada a primeira empresa a constituir-se a nível nacional para a produção de salicórnia com uma produção 100 por cento biológica, a Horta da Ria tem o se principal “centro de produção” na Ilha dos Puxadoiros, em plena Ria de Aveiro, onde a dupla cultiva oito hectares de salicórnia, para além da Marinha da Casqueira, e entre os meses de março e setembro. “Foi na Ilha dos Puxadoiros que encontrámos as condições ideais para avançarmos com a produção de salicórnia, até porque já havia algum trabalho feito no terreno e isso facilitou-nos”, explicou Júlio Coelho ao Diário de Aveiro.

Cinco produtos

Mas nem só a saúde do consumidor sai a ganhar. Também a “saúde da Ria pode beneficiar imenso com esta Horta, porque “não só apostamos na dinamização da Ria e na sua consequente valorização, como promovemos um produto local, desvalorizado pela maioria das pessoas”, reforçou Eduardo Rodrigues, que não hesita em lamentar o estado geral de abandono da Ria. “Há, de facto, vários projetos a desenvolverem-se com ligações à Ria, mas muito virados para a cidade e para o turismo. A Ria mais profunda, essa, está a degradar-se a cada dia”, com salvaguarda para alguma produção de ostra e sal.

Condicionados à produção sazonal da salicórnia e, portanto, com o seu consumo fresco limitado a alguns meses do ano, os empreendedores depressa perceberam que havia outros caminhos a percorrer na otimização da planta. Foi assim que surgiu a salicórnia em conserva e ainda em pó, que tem tudo para ser encarada como uma especiaria que merece estar em todas as cozinhas, ao lado da pimenta ou do caril.

Farinha chega ao mercado

Mais recentemente, Júlio Coelho e Eduardo Rodrigues, que também calçam as galochas e vão para o terreno sempre que necessário, somaram ao portfólio da empresa uma farinha já temperada com “sal verde” e pronta para ser transformada em pão. Um projeto desenvolvido com uma moagem de Ílhavo, a Carlos Valente, e que, apesar de ter iniciado com a farinha de trigo, “tem muito mais potencial e pode vir a ser desenvolvido com farinhas de outros cereais e até misturas”. A farinha acabou de chegar ao mercado e tanto Júlio como Eduardo estão muito otimistas relativamente à recetividade que este produto vai encontrar.

Neste momento, “o nosso esforço está concentrado na redução de custos de produção, porque queremos que os nossos produtos (à venda em lojas “gourmet” de Aveiro, Porto e Lisboa) sejam acessíveis e não sejam vistos como elitistas”. Sempre com a garantia de serem produtos 100 por cento biológicos, desde a produção à embalagem. “Essa é uma marca que nos acompanha desde o inicio e que não queremos deixar”, bem como a “valorização de plantas autóctones”, reforçaram, garantindo que, “além da salicórnia, há muitas outras plantas na Ria com um potencial imenso e ainda por explorar.”

Máquina de corte

Quanto a obstáculos, “além de todas as inerentes a um novo projeto comercial, lutamos com a dificuldade em arranjar mão de obra para a apanha da salicórnia”, dizem, reconhecendo que “é um processo difícil, muito físico e completamente sujeito às marés”. Resta a esperança numa máquina de corte de salicórnia que está a ser desenvolvida por alunos dos cursos da Escola Profissional de Aveiro (EPA) e que pode vir a revolucionar a apanha desta planta. “Já testámos o protótipo e acreditamos que a máquina será um sucesso”, reforçou Eduardo Rodrigues. Atualmente a Horta da Ria está sediada no Centro de Investigação e Empreendedorismo de Ílhavo, mas prevê mudar-se em breve para o PCI – Parque de Ciência e Inovação.

Diário de Aveiro, 6 de Novembro de 2018

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